Conversa de Barbearia
Tudo bem, devo concordar que o título não é lá essas coisas. Afinal de contas, mais parece plágio da antiga expressão já consagrada no país do futebol, da cachaça e, por que não dos mensalões e mensalinhos: Conversa de botequim. Porém, afirmo que a constatação trazida por mim nesse texto é de extrema importância. A barbearia, espaço de valia inigualável para a intelectualidade mundial, sofre com o descaso dos estudiosos e das autoridades locais. Mas ainda há esperança.
Quem, mesmo nos áureos tempos de criança, não teve os cabelos cortados por aquele senhor de sorriso aberto, bigode bem aparado e mãos rápidas como uma lebre? Para mim, no entanto, não passava de um assassino muito bem treinado, capaz de cortar-me o pescoço a qualquer momento. Lembro-me bem de todas as birras e mal-criações; todos os empurrões bem aplicados. Pobre Seu Souza... E o melhor de tudo é que, sempre no final de toda aquela sessão de tortura, ainda eram oferecidas saborosas guloseimas. Que premiação!
Contudo, ao passar por essa tempestuosa e necessária fase (diriam os psicólogos...), comecei a enxergar a figura do bondoso e paciente barbeiro com outros olhos. Transformara-se em uma espécie de sábio, um profeta. Ainda não há quem consiga me explicar como conseguem conversar sobre tantas coisas! Se o assunto é futebol, sabem de todos os resultados do fim-de-semana. Política (vale ressaltar: Internacional e Nacional!), economia, fofocas das novelas... Quanta disposição! Acho que por isso não há quem resista a uma boa prosa de fim-de-tarde acompanhada daquele cafezinho bem quente que só lá é servido.
Bolsões de vida. Guetos humanísticos. Em um século marcado pela instantâniedade dos sentimentos, pelos encontros virtuais e efêmeros, uma relação baseada em sorrisos e apertos de mão parece algo fora de cogitação. Fica a deixa: Preservemos a Barbearia, tão cheia de vida que até o próprio nome já ordena: RIA.
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